segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Soleil, uma trupe







A minha jornada com o Théâtre du Soleil tem início no dia 08 de outubro, quarta-feira de reestreia do novo espetáculo da trupe "Macbeth". O ritmo do grupo é intenso. Atores, técnicos, cozinheiros, figurinistas, musicista e diretora fazem os últimos preparativos para a chegada do público.

Observação. Essa foi a primeira tarefa dada por Madame Ariane Mnouchkine no dia da minha chegada que, vez ou outra, passava por mim com um sorriso singelo certificando se tudo corria bem. 

Escutar e observar. Lição valiosa de Ariane. No trabalho do Soleil, a observação é uma qualidade essencial para o teatro. Como nas tradições orientais, o mais jovem aprende com o mais velho observando-o. Da mesmo maneira, os recém chegados no Soleil aprendem com os mais antigos da casa observando-os no seu fazer cotidiano. Em entrevistas, Ariane Mnouchkine frequentemente diz que o ator precisa ser côncavo e convexo, ou seja, que é preciso receber do outro para depois reagir.

E o que eu recebi nesses quatro dias de observação? Posso dizer que comecei a entender o que significa ser uma trupe. Antes de chegar no Soleil, questionava-me por que o Théâtre du Soleil insiste em se auto-denominar como uma trupe e não como uma companhia ou grupo de teatro. Não seriam estes sinônimos?

Particularmente, a palavra trupe sempre me lembrou as trupes itinerantes da Idade Média. Compostas por famílias, avós, pais, mães que passavam aos filhos o ofício do ator, as trupes percorriam várias cidades realizando apresentações teatrais. 

De certa forma, o Théâtre du Soleil é formada por uma verdadeira família mambembe composta por cerca de 85 integrantes vindos de diversas partes do mundo e que encontraram o seu lar no teatro de Ariane Mnouchkine. Muitos são imigrantes que vivem longe de suas famílias de origem ou que se refugiaram da guerra. Também encontramos crianças, filhos de atores da trupe, que já começam a aprender no palco o ofício.

Mas, ser uma trupe de teatro é muito mais radical e profundo que isso. Se traduz na forma de fazer teatro. Um trabalho árduo, contínuo e coletivo. É necessário que todos trabalhem duro para que o teatro, essa arte tão efêmera e delicada, possa estar viva todos os dias. Para tanto, é necessário fazer a limpeza do espaço, organização dos objetos de cena, arrumação dos camarins, limpeza dos banheiros, preparação da comida, recepção do público... Tudo com extremo rigor, mesmo nos pequenos detalhes, atenção e generosidade com o outro e devoção ao teatro.

Evoé!

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