Um dia desses, vi um vídeo na internet que me chamou muita a atenção. Nele, o interlocutor discutia a relação entre cultura e desenvolvimento social, político e econômico. Defendia, em suma, que o nosso comportamento individual - em parte determinado pela cultura - afeta diretamente o desenvolvimento de todo um país. Provavelmente você deve estar se perguntando porque eu estou falando sobre isso aqui e não sobre teatro, não é? Já, já, chego lá e, quando chegar, espero que você entenda o que eu quero dizer com tudo isso.
Bem, o fato é que o vídeo me deixou tão incomodada que eu comecei a observar o comportamento das pessoas em meu entorno. Como vocês podem imaginar, o meu entorno atualmente é o Théâtre du Soleil. Após o pequeno período de recesso, a trupe retornou para a França e retomou os ensaios. Na minha cabeça, acreditava o tempo todo que a rotina do Soleil em casa seria completamente diferente daquela estabelecida na Índia. Mas, eu estava errada. O que eu vi foi exatamente a tentativa de preservar o máximo possível a mesma rotina de trabalho: os horários, o treinamento, as improvisações, a configuração dos espaços... Era como se ainda estivéssemos na Índia.
Bem, o fato é que o vídeo me deixou tão incomodada que eu comecei a observar o comportamento das pessoas em meu entorno. Como vocês podem imaginar, o meu entorno atualmente é o Théâtre du Soleil. Após o pequeno período de recesso, a trupe retornou para a França e retomou os ensaios. Na minha cabeça, acreditava o tempo todo que a rotina do Soleil em casa seria completamente diferente daquela estabelecida na Índia. Mas, eu estava errada. O que eu vi foi exatamente a tentativa de preservar o máximo possível a mesma rotina de trabalho: os horários, o treinamento, as improvisações, a configuração dos espaços... Era como se ainda estivéssemos na Índia.
Na verdade, era como se estivéssemos na França. Porque, era o Soleil que tentava reproduzir a sua rotina de trabalho na Índia e não o inverso. Em um espaço menor, como o era na Índia, é mais fácil de perceber como toda a equipe está o tempo todo trabalhando junta.
Passa-se o dia inteiro juntos. Treina-se juntos. Come-se juntos. Cria-se juntos. Falamos de uma companhia de teatro com uma estrutura bastante complexa que praticamente vive junta. Da encenadora ao estagiário. E é assim desde muito tempo.
Passa-se o dia inteiro juntos. Treina-se juntos. Come-se juntos. Cria-se juntos. Falamos de uma companhia de teatro com uma estrutura bastante complexa que praticamente vive junta. Da encenadora ao estagiário. E é assim desde muito tempo.
Não é fácil viver em coletivo. Após quase seis meses vivendo com a trupe, posso dizer isso com segurança. Muitas vezes para que o coletivo consiga prosseguir, é preciso fazer concessões. Por exemplo, é preciso saber dividir o espaço, dividir a comida, conviver com pessoas agradáveis e desagradáveis. Regras implícitas ou explícitas que devem ser seguidas à risca, sem exceções: não chegar atrasado, não usar os sapatos da rua no espaço de trabalho, não entrar/sair da sala de ensaio durante uma improvisação.
Essa noção de coletividade é extremamente forte no Théâtre du Soleil. É fácil entender o por quê se pensamos que se trata de quase 100 pessoas cohabitando o mesmo espaço todos os dias. Afinal de contas, ter banheiros limpos é essencial. Ter uma sala de ensaio limpa também. Para a trupe, é importante que todos ali passem pelo trabalho na cozinha, na bilheteria, na recepção do público, na administração, na técnica... Por vezes, vemos até mesmo Madame Mnouchkine botando a mão na massa. Em algumas ocasiões festivas do Soleil, Ariane Mnouchkine ajuda a cozinhar e a servir os convidados. Nos dias de apresentação, é ela que recebe o público na porta de entrada e ajuda a recolher os bilhetes. Mas, a coletividade é considerada fundamental também para a criação. Afinal, no teatro precisamos do outro para criar.
No caso do Soleil, até mesmo a criação de um personagem se dá de forma coletiva. Às vezes um ator propõe um personagem ou uma situação interessante para o espetáculo, mas não consegue desenvolvê-lo. Então, um outro ator irá substituí-lo na tentativa de continuar o trabalho que o primeiro iniciou. Normalmente se trata de um ator-locomotiva, ou seja, uma espécie de ator curinga que possui a responsabilidade de guiar os outros atores na criação, seja porque ele é um ator mais experiente e, portanto, mais familiarizado com o modo de criação do Soleil, seja porque ele é um grande improvisador. Mesmo assim, isso não significa que o jogo está ganho. Às vezes ele é bem sucedido e às vezes não. Então, este será substituído por outro ator ainda, locomotiva ou não, que tiver alguma visão relacionado ao personagem/situação em questão. E é assim que o trabalho vai se desenvolvendo.
Fora de cena a relação é a mesma. Os atores precisam das figurinistas para ajudar a montar o personagem, preparar um tipo de vestimenta.... da mesma forma que o arquiteto precisa do engenheiro para subir um prédio. E as figurinistas precisam do desenvolvimento das improvisações para elaborar o figurino do espetáculo. Em um mundo cada vez mais globalizado, isso é ainda mais real, não é mesmo? Todos precisam de todos. Verdadeiramente. Os estagiários são requisitados para auxiliar aos atores a preparar as improvisações. Assim como os engenheiros não conseguiriam subir prédio nenhum sem o pedreiro. Não estamos sozinhos no mundo. E o que seria um grupo de teatro que uma pequena amostra desse nosso mundo?
Fora de cena a relação é a mesma. Os atores precisam das figurinistas para ajudar a montar o personagem, preparar um tipo de vestimenta.... da mesma forma que o arquiteto precisa do engenheiro para subir um prédio. E as figurinistas precisam do desenvolvimento das improvisações para elaborar o figurino do espetáculo. Em um mundo cada vez mais globalizado, isso é ainda mais real, não é mesmo? Todos precisam de todos. Verdadeiramente. Os estagiários são requisitados para auxiliar aos atores a preparar as improvisações. Assim como os engenheiros não conseguiriam subir prédio nenhum sem o pedreiro. Não estamos sozinhos no mundo. E o que seria um grupo de teatro que uma pequena amostra desse nosso mundo?
Preciso confessar que atualizo seu blog todos os dias na esperança de ter post novo. Como te disse sou apaixonado pelo Théâtre Du Soleil e espero um dia viver esse sonho que você está vivendo... Dizem que quando perseguimos muito um sonho ele começa a nos perseguir... Quarta-feira começo aula de francês e você já pode imaginar o motivo né? Sou muito grato por seu blog e fico encantado com cada post rico em detalhes. Imagino cada detalhe e rezo baixinho pra que um dia eu chegue ao Théâtre Du Soleil.
ResponderExcluirO Théâtre Du Soleil é minha grande inspiração e modelo vivo do teatro que pretendo para minha vida... Essencial o outro no processo de criação.
Um forte abraço e saiba que suas palavras são muito importantes para mim.
Roberto Filho