segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A École Nômade: o Soleil na Índia

 

Quase um ano depois, recomeçamos nossa aventura pelo universo teatral do Théâtre du Soleil. Durante algum tempo, o Théâtre du Soleil esteve um pouco adormecido. Cada ator teve tempo para rever a família, descansar e investir em projetos pessoais. Alguns se permitiram conhecer novas culturas e tradições teatrais; outros se ocuparam em transmitir um pouco do seu ofício; outros ainda tomaram esse tempo para concretizar outros trabalhos. Enquanto isso, na Cartoucherie, vários artistas foram convidados para rechear aquele espaço, inclusive a própria Aftaab que realizou uma curta temporada de seu último espetáculo La Ronde de nuit.
 
Esse respiro foi essencial para dar impulso a um novo e importante passo da trupe: a École Nômade.

Em julho desse ano, o Théâtre du Soleil deu início a um projeto que se chama École Nômade (em português, escola nômade), uma oficina ministrada por Ariane Mnouchkine com o apoio de alguns atores do Soleil em diversos países do mundo. A primeira se deu no Chile, com duração de um mês e com cerca de 200 participantes e ouvintes. Diferente dos famosos estágios que acontecem na Cartoucherie, a École Nômade não pretende selecionar novos atores para a trupe.

 
Essas oficinas são completamente gratuitas, mas exigem dedicação total dos participantes que trabalham de segunda à sexta (às vezes, sábados ou domingos) das 10 horas às 17 horas.

 
A École Nômade já alçou grandes vôos. Depois do Chile, veio Inglaterra, Suécia e agora Índia, sempre reunindo atores do mundo todo. Com exceção do Chile (que foi a mais longa), todas as outras oficinas duraram cerca de 15 dias.

 
E é aqui que eu entro na história com vocês, caros leitores. Escrevo do oceano Índico para contar pessoalmente sobre essa nova experiência do Soleil. Já se passou uma semana de trabalho, tão rápida e tão intensa que parece que essas duas semanas vão se acabar em um piscar de olhos. Somos cerca de 100 participantes e alguns ouvintes. A grande maioria são jovens atores de todas as partes da Índia que vieram aprender com o Théâtre du Soleil na pequena cidade de Pondicherry, no sul da Índia. Mas também encontrei por aqui franceses, brasileiros, italianos, canadenses, americanos... estrangeiros que moram por aqui ou que viajaram para cá somente para viver esta experiência.

 
"Vocês se acham muito numerosos?" Ariane Mnouchkine diz no primeiro dia de trabalho. "Se você pensa dessa maneira, sinta-se livre para sair agora".

 
Somos muitos, é verdade. Mas, existe espaço para todos nós aprendermos. Precisamos ser corajosos, dedicados e, principalmente, aprender a trabalhar com o outro que às vezes nem fala a mesma língua. É um trabalho árduo, difícil, mas maravilhoso quando vemos nascer o teatro diante de nossos olhos.

Caro leitor, peço desculpas se por ventura não for capaz de traduzir tudo aquilo que é vivenciado por aqui em meus textos. Para tanto, peço que não se sinta acanhado em perguntar ou comentar. Prometo que tentarei ao longo desses dias traduzir em palavra aquilo que o ator deve saber transformar pelo coração e pelo corpo.

 
Despeço-me aqui, ansiosa para viver essa experiência e compartilhar com vocês.

 
Nandri! (Obrigada!)


Atualização!
Quem quiser acompanhar mais de perto a École Nômade pode acessar o site http://institutfrancais.in/ e clicar no vídeo à direita da tela (na seção vídeo gallery). Neste vídeo vocês poderão conferir os momentos mais importantes do terceiro, quarto e quinto encontro que aconteceram respectivamente nos dias 16, 17 e 18 de dezembro. Esses vídeos estarão disponíveis por apenas 24 horas. Ao final desse período, outros encontros da École Nômade em Pondicherry serão exibidos nesse mesmo canal.

2 comentários:

  1. Oi Juliana! Vc saberia dizer se tem relação entre esse curso e os atores no processo de criação do espetáculo e sua aprendizagem do Theru Koothy?

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    1. Boa noite! Sim com certeza! A École Nômade na Índia marcou o fim desse grande processo e o início da criação do novo espetáculo. Podemos dizer que a oficina foi uma primeira aproximação sobre o tema. Ver os atores indianos em cena era conhecer a sua bagagem cultural e teatral. Por exemplo: quando Mnouchkine deu "amor" como tema de improvisação, várias cenas revelaram a realidade e o imaginário indiano sobre essa questão e que se difere bastante do francês. Além disso, muitos indianos que estiveram presentes nessa oficina, colaboraram diretamente para o processo de criação do Soleil: na produção, na tradução ou em cena! No entanto, o therukoothu não foi em momento algum abordado na oficina, fazendo parte realmente de uma pesquisa interna da trupe. Espero que eu tenha ajudado a responder a sua questão!

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