sábado, 3 de janeiro de 2015

Do lado de cá do Atlântico

Com o final de 2014, veio o tão esperado recesso para Soleil. A segunda temporada de Macbeth durou apenas três meses. Mas, nesse pequeno período de tempo, o Théâtre du Soleil funcionou a todo vapor, fazendo seis apresentações por semana. A dura tarefa de apresentar Shakespeare nos palcos em um espetáculo de quatro horas foi certamente recompensadora. Todas as noites, com a casa constantemente cheia, o público nos mostrava que ainda é possível se fazer teatro.

Agora, toda a equipe do Théâtre du Soleil terá o merecido descanso para retomar com fôlego a última temporada de Macbeth. E eu, também encerro aqui a primeira metade da minha residência artística no Soleil.

Foi com grande dificuldade que eu me despedi daquele lugar mágico. Os lugares que eu habitei e que sei que estarão diferentes quando eu voltar. As pessoas que vão seguir por outros caminhos. Este Macbeth e todas as personagens cercadas por sua ambição desenfreada já não existirão mais pra mim que em lembrança.

Nos meus últimos dias convivendo com o Soleil, pensei muito a respeito da efemeridade das coisas e da ação do tempo. Tudo aquilo que foi a minha vida durante três meses, de repente, já não é mais. Como diz a canção Na carreira de Chico Buarque, o trabalho do artista é "ir deixando a pele em cada palco e não olhar pra trás". O tempo. Falamos tanto sobre ritmo, musicalidade, timing... mas, o tempo é também aquele que deixa para trás apenas os rastros dessa arte.

E então, o que será do Théâtre du Soleil depois de Macbeth? Não sei. Ninguém sabe realmente. Outras criações incríveis, espero. O fim da temporada marcará o início de uma grande  pausa nas atividades do grupo, momento em que Ariane Mnouchkine normalmente precisa para encontrar um ponto de partida da próxima criação.

E nós? Nós também teremos o privilégio da pausa. Esta primeira parte da nossa aventura encontrou o seu fim. Inclusive, escrevo para vocês, queridos leitores, de terras brasileiras. Durante três meses, pude acompanhar o Théâtre du Soleil em temporada, seu cotidiano, sua rotina de trabalho. Agora, essa aventura ficará em suspensão durante um ano - período em que o Soleil finaliza o seu atual, quer ser por volta de março, e toma a mencionada pausa. No início de 2016, retornarei a Cartoucherie para acompanhar durante três meses o Soleil em uma nova caminhada: o processo de criação. E, claro, continuarei a compartilhar as minhas impressões e experiências com vocês.

Ao Soleil um "até breve!" recheado de "obrigado" por toda o acolhimento e generosidade.

Aos queridos leitores, agradeço imensamente por me acompanharem nessa saga por terras estrangeiras, à procura do teatro!